terça-feira, 27 de maio de 2014

Fim do Iluminismo - poesia para os franceses e todos os europeus


Vocês renasceram e nos descobriram

Nos pegaram sem roupa não falávamos o seu idioma

Tomaram para si nossos tesouros

Natureza, mulheres, ouros

Envelheceram e apodreceram cultura e economicamente

 

E o que irão fazer? Voltar a explorar o novo mundo?

Mas vocês levaram quase tudo

Diferente do passado

Estamos vestidos iguais a vocês

Falamos o seu inglês, francês.                                      

Lemos os seus livros e dizemos:

Teu Joyce não é melhor que nosso Guimaraes

Vou falar com toda franqueza

Me desculpe a tua revolução foi burguesa

 

Mas neste lugar apesar dos pesares

ainda tem glamour e elegância

Faz com que muito de nós sonhe

E que fique cego de ganancia

 

Assim como as companhias de comedia dell’arte italiana

O sonho era chegar em Paris

O sonho de todo menino de pés descalço

é jogar no Barça, Real, Milan, PSG, Chelsea

Ele não estuda se dedica apenas ao futebol

Mas da peneira, que é pouco diferente do tráfico negreiro,

Mas da peneira, que é pouco diferente do tráfico negreiro,

só saem alguns, dentre os milhões 

que voltarão a andar com os grilhões

 

Iludida com renda fácil

O trabalho era dá. De primeira incitei. Chorei. Mas depois dei

Estou presa num hotel dancei pensei em regressar mas fiquei

 

O sonho de todo travesti é entrar ilegal no teu país pra se prostituir

Estar na pior lá? Prefiro ta bem, merci.

Hoje eu sou o menino, sou a puta, sou o travesti

Aceitei o seu jogo estou aqui

As pernas abertas dentro das suas regras querendo competir

Mais um macaco que veio pra te distrair

No teu estádio, no teu teatro na tua boate

 

Me deram apenas a bola então tive que roubar a caneta

Rasguei a bola e passei a treinar com a escopeta

Não foi você que explorou não fui eu que sofri

Eu sei, mas eu e

Todos os Latino-americanos pagamos

E você não. Então fecha o bico. Já acabou “A Hora do Show!”

 

Pediram tanto capital emprestado e não pensaram

Depois tantos pensadores até Antes de Cristo

e Hoje em crise

 

Pega este troféu

simbolizando as igrejas, os castelos DEVOLVA-NOS

Aquela mesma matéria que de nossas terras foi tirada por escravo

Escravo que hoje faz seus tênis

Que esta retorne à Minas mesmo que Minas não exista mais.

 

Este troféu será colocado na prateleira do boteco da periferia

ao lado dos times de várzeas

Pois é assim que entendemos o slam.

A poesia oral redigida com sangue

Resignificou o seu aristocrático sarau

E voltou pras ruas pras rodas, fogueiras ao ritual

 

E se quiser a literatura viva de volta para aí

Terá que vir batalhar aqui

com os espíritos herdeiros

Dos Bantos, dos Incas, dos Maias e dos Guaranis

Praticarei o suicídio se for preciso

mais isso vocês não roubam mais de mim

Por: Emerson Alcalde

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